terça-feira, 5 de maio de 2015

O lugar das coisas


Uma maneira de acabar com o argumento batido que a internet é o que fazemos dela é olhar para o tipo de comportamento permitido em cada rede social online. Não é muito diferente das regras da casa tia, em algumas jamais você pode colocar o pé no sofá, em outras pode abrir a geladeira.

O fenômeno do textão no Facebook também é um bom exemplo. A regra é clara, sou esperto e politizado. O Facebook é o almoço de domingo. No Twitter você pode ser engraçado e irônico. Seus parentes, vizinhos e pseudos-conhecidos não estão lá, fale besteira a vontade. No Instagram já faz um tempo que ficou chato postar foto de comida. A patrulha foi grande, parece que ainda é permitido postar fotos do pôr d0 sol ou de arte urbana, ou uma frase qualquer num muro pichado.

Existem outras redes sociais de nicho como o Tumbrl e Pinterest. É certo que a função desses sites nunca ficou muito clara. Uma curadoria de tudo que eu queria ser ou os símbolos que me constituem. O Pinterest é como a casa daquele seu amigo com um quê de artista, todos os móveis conversam entre si, lá nada foi colocado ao acaso, as coisas tem uma história e um porque, e sim, são todas bonitas, ou razoavelmente contempláveis. Moraria facilmente dentro do Pinterest.

A rede social que tem me intrigado é o Snapchat. Cada lugar é estruturado de maneira a permitir certas condutas e a do Snap é clara, quero compartilhar, mas só por alguns segundos, depois tudo cai no vazio. Não é à toa que os adolescentes tomaram conta do lugar. Lembre quando você teve o chatíssimo trabalho de apagar fotos do seu ex do Facebook, ou pior, quando lembrou das fotos da adolescência estampadas no Orkut. Não deixar rastros parece ser a ordem da vez.

Bruno Latour disse que o jornal é a oração diária do homem moderno. As redes sociais onlines são a reza do homem pós-moderno. Continuo incrédula em todas elas, mesmo sabendo da realidade fragmentada e previamente criada apenas para ser, e claro, sigo atualizando.

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