segunda-feira, 27 de abril de 2015

Repertório do abandono


Desenvolvi alguns padrões de abandono e sempre que possível sigo eles. Se o livro estiver ruim largo ele no meio, se a série desandou e não lembro mais como cheguei ali, abandono, filme então nem se fala, durmo. Não encorajo perder a curiosidade e não realizar nenhum esforço diante do novo ou difícil, mas aprender o momento de ir embora é algo importante na vida.

Desenvolver um repertório de abandono não se aplica apenas a livros ou filmes, mas também a pessoas. Devo soar mesquinha ao escrever isso, mas, pense naquele conhecido que sempre reclama dos seus relacionamentos ou de possuir um dedo podre. O mecanismo do dedo podre é a capacidade de estragar tudo o que se toca (haja pretensão em acreditar que possui tal habilidade) ou o azar de nunca encontrar pessoas legais e sempre ignorar o padrão de escolhas.

Ao contrário do que pode parecer o repertório do abandono não é apenas um tipificador de pessoas e reforço dos estereótipos, ele também é isso, mas é mais que isso. Pode ajudar a fugir de algumas ciladas ao perceber os padrões que se repetem. Os padrões podem não ser regras universais ou regerem o mundo, afinal nem sempre a soma de a mais b indicará o caminho. No entanto, você pode evitar alguns sofrimentos se reparar neles.

Quando Cinquenta tons de cinza ainda ocupava a lista dos mais vendidos lembro de um blog que gostava bastante ter escrito umas das críticas mais ferrenhas que li na internet naquela época sobre o livro. Algum tempo depois entro lá e encontro outra resenha furiosa sobre o segundo livro da série. É isso que tento explicar. Não é necessário ler o segundo livro apenas para reafirmar que ele é ruim. É esperar milagre demais na vida. Melhor assumir o prazer da queixa. É mais honesto.  Abandonar, aliás, é ser honesto consigo.

Abandonar sem conhecer é pobreza, “é julgar saber demais e se interessar pouco”. Não é torcer o nariz frivolamente. É o contrário. É conhecer e saber que não vale a pena. É se conhecer e ir embora. Já sei que é ruim, não quero, não gosto. Repetindo meu meme favorito da atualidade “eu não sou obrigada”.

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