domingo, 25 de maio de 2014

sobre selfie ou viver de um modo o mais fotografável possível


O selfie da Elen Degeneres durante a cerimônia do Oscar desse ano foi tweet mais retuitado de toda a história. Em 2013 o dicionário Oxford elegeu selfie como a palavra do ano. Fazer auto-retratos parece ter se adequado como forma de expressão comum na cultura contemporânea. O selfie caracteriza nosso egocentrismo e eterna necessidade de apreciação e reconhecimento agora convertidos em likes. 

Há que defenda que os selfies não são só sobre narcisismo e auto-obsessão. Esse artigo na Urbans Timens apresenta os selfies como uma prática antiga que começou lá nas cavernas. Embora as pinturas rupestres não possam ser muito bem classificadas como selfies. Os auto-retratos de artistas como Picasso, Yayoi Kusama são selfies? Seria a Frida Kahlo com sua majestosas sobrancelhas a maior selfier da história?

O pesquisador Lev Manovich, doutor em Cultura e Arte Digital, criou o projeto Selfiecity, uma investigação sobre a prática do selfie em 5 cidades do mundo (Bangcoc, Berlim, Moscou, Nova York e São Paulo). O projeto utilizou análise e visualização de dados de milhares de fotos para revelar padrões interessantes. Nem só de selfies vive o Instagram, das imagens coletadas apenas 4% são selfies. O resto são fotos de gatos, carros, pés ou comida. As fotos são predominantes entre grupos estimados entre 20 e 25 anos. E são as mulheres em todas as capitais que mais fazem selfies, elas também fazem poses mais expressivas. E se o tamanho e quantidade de sorrisos podem indicar felicidade, os brasileiros são os mais felizes. 

Não tenho problema com o  selfie, mas vivermos como eternos turistas do cotidiano. Turistas tem essa empolgação pelo local e passam todo tempo criando memórias, registrando lugares, correndo atropeladamente. Tenho sempre a sensação que quando somos turista não prestamos atenção em nada, estamos tão maravilhados e com tanto o que fazer que quase não observamos. 

"É só você começar a dizer a respeito de alguma coisa: ‘Ah, que bonito, tinha era que tirar uma foto!’, e já está no terreno de quem pensa que tudo que não é fotografado é perdido, que é como se não tivesse existido, e que então para viver de verdade é preciso fotografar o mais que se possa, e para fotografar o mais que se possa é preciso: ou viver de um modo o mais fotografável possível, ou então considerar fotografáveis todos os momentos da própria vida. O primeiro caminho leva à estupidez, o segundo à loucura." (citação retirada do the cactus tree).

6 comentários:

Cristiano disse...

Todo mundo tem uma camera hoje em dia no bolso... mas gostava mais qdo selfie era o bom e velho autoretrato.

Camila Faria disse...

Interessante essa comparação dos auto-retratos com as selfies. Vou ler o artigo da Urban Timens...

Eu não tenho nada contra as selfies, mas que tem gente que abusa delas, isso tem... O bom é que a gente tem - semore - a opção de não acompanhar essas pessoas, de não levar pra nossa vida esses conceitos "fundamentais" da vida dos outros. Viva a liberdade (e a liberdade de expressão)!

Carol Daixum disse...

Muito interessante o post.
Eu não tenho nada contra selfie, até arrisco de vez em quando rsrs! Mas tudo em excesso é ruim mesmo!
Eu amo fotografia, vivo fazendo vários cliques de lugares e momentos. Mas, às vezes, realmente perdemos ótimos momentos por causa dessa mania de tirar foto de tudo. Melhor lembrança é guardar na memória mesmo!
Beijos,
Carol
www.pequenajornalista.com.br

Lala Ismerim disse...

O auto-retrato sempre foi algo bem comum na sociedade como um todo.
A única diferença é que hoje em dia, por conta da internet, todo mundo consegue ver as fotos das outras pessoas.
Quando pequena passava horas vendo os álbuns de família com minha mãe. Do mesmo modo sempre tivemos o hábito de tirar fotos, seja em casa, em viagens, etc...
Só criaram um novo termo para algo que já fazemos a milênios.
Beijo

Trauti Lang disse...

"Seria a Frida Kahlo com sua majestosas sobrancelhas a maior selfier da história?" - a pergunta do ano!

Eu tenho alguns problemas com fotos. Não gosto de tirá-las, não acho que sejam necessárias pra guardar memórias e nunca tenho uma câmera quando preciso. Mas o que mais me intriga são as fotos de comida. A maioria parece vômito, tem gente que só publica isso e tá longe de ser algo interessante, que chame público. Eles simplesmente continuam...

Beijos

Georgia Visacri disse...

Ellen, adorei seu post, nunca tinha pensado nessa coisa de "turistas do cotidiano". Para refletir mesmo!

Eu adoro minhas selfies. Sempre saio horrorosa em fotos que outras pessoas tiram por que morro de vergonha de posar. Nas minhas saio como gostaria e isso me faz feliz.

ótimo texto ;-)