Sempre fui chamada de “cheinha”.
Nunca fui magra e pra melhorar tenho uma relação intensa com comida. Sempre
tive inveja das minhas amigas que colocavam uma porção simbólica em cima do
prato quase como arte minimalista. Meus feriados favoritos são aqueles que
envolvem comida. E bom, eu sempre fui julgada por ser assim. Mas quem não é
julgado por ser qualquer coisa, não é?
Sou alguém que vive entre a gorda e a
magra, num limbo corporal, sem ser nada e sempre com culpa. Mas aí no meio do
caminho eu encontrei o feminismo que ensina a aceitar o seu corpo, gostar dele
como ele é e amá-lo. Ao menos achei que tinha aprendido. Eu fui e ainda sou uma
pessoa mais feliz após esse encontro. Passei a comer com menos culpa e também
parei de subir na balança e fazer dietas. Não via propósito e acho um hábito
muito estranho monitorar o peso. Por que alguém saudável precisa insistentemente
saber quanto pesa?
Mas algo aconteceu nesses dois anos
de um relacionamento feliz e não sei se necessariamente saudável com a comida.
Meu quadril começou sutilmente a aumentar, sento para estudar e percebo uma
pequena massa de gordura se acumulando na minha barriga. E não, eu não gostei
de nada disso. Não importa quantos textos sobre empoderamento leia ou perceba
claramente a gordofobia estampada na mídia. Acontece que eu não consigo me
desligar, não consigo aceitar o meu corpo engordando, e não, eu não quero.
Qualquer pessoa que não tenha uma
visão ingênua sobre o feminismo sabe que o importante é estar bem no corpo que
habita, seja lá qual formato ele tenha. Mesmo isso não diminuí o sentimento de
ter perdido a batalha. É muito fácil dizer que a sua beleza não está no seu cabelo,
nem no formato do seu corpo, nem em coisa alguma do que em você ou dentro de
você. Mas por que entender e praticar isso ainda é tão difícil?
Acontece que assim como o meu corpo, o meu feminismo também é
imperfeito. E é muito difícil assumir nossas imperfeições. Vou parafrasear a Amélie para tentar explicar: ainda são tempos difíceis para as mulheres. Mesmo com as
conquistas grandes e pequenas por direitos, ainda existe uma pequena batalha que
acontece na sutileza do dia-a-dia. E essas batalhas, minha gente, são as
mais difíceis.
Imagem do tumblr Outras Meninas
Imagem do tumblr Outras Meninas
2 comentários:
Gostei muito desse post. Eu também vivo no limbo magra/gorda. Sou magra com roupas de trabalho e gorda de biquini. E amo comer! Acho que um ponto importante é a aceitação. Me aceito nesse limbo... mas se eu engordo muito e perco roupas, não me aceito mais.
E estando como eu sou, posso não estar 100% satisfeita mas me aceito. Tem gente que se aceita gorda, tem gente que se aceita magérrima, e eu me aceito estando no meio termo.
Qto ao feminismo, me incomoda um pouco essa divisão.. ou vc é feminista e não liga em engordar horrores, ou você é vaidosa e se submete ao machismo?! Parece que a gente é cobrada de todos os lados O_O
enfim, momento desabafo haha.. bjs!
Desculpa chegar assim, me metendo, mas eu tenho tanta coisa para te falar sobre isso! Em primeiro lugar, não, não é o seu feminismo que é imperfeito. E se tem algum feminismo que acha que você deve ignorar o que você pensa e sente a respeito do seu corpo, é esse feminismo que é imperfeito e que não deve ser levado a sério!
Posso ser ainda mais intrometida e deixar o link para um texto antigo meu? http://eomundoseguiuadiante.blogspot.com.br/2014/06/dilemas-meu-corpo-nao-e-futilidade.html
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