Foi
numa segunda-feira distante que aconteceu pela primeira vez. Ela pensou em
adiantar o café no que ele já tinha a água fervendo na panela. Achou bonito.
Eles agora completavam as frases um do outro. Em outros momentos repetiam em uníssonos.
Começaram
a encadear as ideias de maneira parecida. Tinham uma admiração contida porque é
fácil admirar o que é espelho. Parecia uma benção do auge da sintonia dos
relacionamentos. Ela compreendia os segredos mais velados. Até aqueles que em
segredo preferia não ter percebido.
A
ligação era tão forte que começaram a desconfiar de algum misticismo em tudo
aquilo. Mas alguém comentou que era algo pra poucos. Que só os casais mais
elevados chegavam ao nível da comunicação com um olhar distante, um toque no
nariz e a premonição velada.
Depois
que a graça da simultaneidade passou e o que era raro virou rotina faziam menos
barulho. Poupavam-se a voz, já era sabido. O próximo capítulo, o próximo gesto,
a mão repousava sobre o ombro.
Experimentaram
uma cumplicidade tão intensa que os silêncios da confidência aumentavam os
silêncios da distância. Eles de tão conectados que eram tornaram-se
displicentes.
Continuavam
conectados, mas uma conexão triste. Lenta. Devagar com toda obviedade que se
estabeleceu. Conheceram a desgraça que surge das coisas boas apenas para
afrontar a ideia comum da benção que é ser compreendido por inteiro.
Permaneceram
anos juntos em silêncio absoluto. Devoraram-se por inteiro.
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