Há
quase dois anos moro em Salvador e predomina o sentimento de desconhecimento
sobre esse lugar. Salvador é difícil de conhecer.
Eu
não sei falar sobre os seus problemas óbvios, seu trânsito caótico ou sua fragilidade quando a chuva vem e olha que ela sempre vem. Muito menos sobre
sua periferia, porque falta em mim o conhecimento eminente sobre todas essas
coisas.
Falta
em mim tantas coisas, aliás.
Salvador
tem alguma coisa de feia que a faz bonita. Aqui parece que o tempo foi
envelhecendo os prédios e eles ficaram bonitos apenas por estarem feios.
Outra
coisa difícil pra alguém que cresceu no interior lá perto da caatinga baiana é
a presença do mar. O mar é algo ainda muito misterioso. Ficava sempre
impressionada em como as pessoas existem perto do mar e apenas passam por ele. Sempre
achei que ele foi feito pra ser visto. Não sei conviver silenciosamente com ele.
Ainda
acho esquisitíssimos diálogos como “vamos pela orla ou pela Bonocô?”.
Bonocô
também foi outra coisa que causou grande estranhamento. Não a via, mas o nome
ou o som dela. Essa sonoridade malandra faz com você duvide da urbanidade
daqui. Salvador nunca vai ser urbana.
Outro
dia fui com meu namorado ao Pelourinho e não sei como parámos em um
estacionamento e logo depois já saímos dentro do Pelourinho. Naquele dia
percebi que nunca vou me acostumar com essa cidade. Estávamos numa rua
asfaltada e “de repente plim” aquele chão antigo de pedras tortas.
É
o plim que torna Salvador difícil. Esse gatilho rápido que não consigo
acompanhar. Vejo um prédio de arquitetura moderna sofrível e outro de azulejo
colonial caindo aos pedaços. Salvador talvez exista dessa simbiose entre o novo
e o velho, o urbano e o arcaico, o feio e o bonito. Eu apenas devo aceitar e
sentar sempre na janela do lado pro mar no ônibus.
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