O
sentimento de fraude sempre me acompanhou. No ensino médio era certeza. Era
fraude. Pronto. Ninguém te leva a sério mesmo. Seu talento para exatas é
inexistente e logo percebem que você é “uma pessoa de humanas”. Seja
lá o que ser alguém de humanas signifique.
Mas
aí por alguma razão misteriosa você passa no vestibular, numa universidade
pública e tudo. Você continua fraude, mas com nível superior. Você agora é de
fato alguém de humanas, vai ter uma profissão sofrida que nunca pagará um
salário decente. Nas reuniões de família, aniversário, natal, páscoa, um
parente semi-desconhecido vai puxar assunto sobre a faculdade.
Essas
conversas são piores que aquelas em sala de espera de médico, ou elevador, essas
obrigatórias que servem apenas pra preencher o vazio, sobre o tempo ou a
demora. Mas é natal e você sorri e se entope de comida ou é pascoa e você sorri
e se entope de comida também.
Quem
fez um curso como o meu, jornalismo, corre o risco de ouvir sempre a mesma
piada cretina sobre ser o próximo William Bonner ou “te vejo na globo”. Penso
como as pessoas de rádio e tv devem sofrer. E museologia? E relações
internacionais? E turismo gente??
Pode
piorar. Acredite. Você pode começar um mestrado. Seus semi-desconhecidos agora não
sabem mais o que você faz da vida. Aliás, a pergunta que fica é: você faz alguma
coisa da vida? Quando você para de estudar mesmo? O que faz alguém com
mestrado? Explicar que você faz um mestrado em “filosofia deleuziana com
enfoque em Hegel sei lá o que” só aumenta o sentimento de fraude. Talvez passe
quando começar um doutorado. Profissões que envolvem a palavra doutor parecem
ser algo bom nesse país. São?
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