domingo, 4 de dezembro de 2011

O palhaço


Bom ver o cinema nacional com produções e temáticas diferentes do que costuma aparecer no circuito tradicional. O filme O palhaço está classificado como comédia, mas, caberia tranquilamente em um drama, é estrelado e dirigido por Selton Melo. Um belo filme, seus personagens cativantes, ótima fotografia, mas sua narrativa é lenta, como o próprio Benjamim (Melo), o que não diminui sua qualidade. O palhaço cativa pela delicadeza, traz à áurea do circo, do picadeiro, as apresentações são ingênuas, tudo acontece de maneira rotineira, de cidade em cidade, monta a lona, desmonta tudo. Os momentos de risadas acontecem quando Benjamim se transverte do palhaço Pangaré. Mas o palhaço fora do picadeiro é triste, tímido, desajeitado e estava crise, não sentia mais vontade de fazer o sempre fez. Vivia perturbado enumerando seus problemas: conseguir alvará, comprar ventilador e sutiã novo para Berta. É o ventilador o símbolo da inquietação de Benjamim, não consegue comprá-lo, precisava de identidade, CPF e comprovante de residência. É um filme sobre fragilidades, pequenos desejos e o sentimento de pertencer.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Clarice na cabeceira

Meu conto favorito de Clarice Lispector é Felicidade Clandestina. Adoro Clarice pela forma como retrata o cotidiano, pela inquietação diante da vida e por suas personagens femininas frágeis e profundas. De maneira que quando encontrei Clarice na Cabeceira uma coletânea de contos da autora escolhidos por figuras como Luis Fernando Veríssimo e Maria Betânia fiquei apaixonada pela idéia. Qual o seu conto de Clarice de cabeceira?

A coletânea foi organizada por Tereza Monteiro doutora em Letras pela PUC/Rio e publicada pela Editora Rocco.

É grande a quantidade de coletâneas que surgem todos os anos no mercado com parte da obra de Clarice, o que chama a atenção é que Clarice na Cabeceira é antes de tudo uma escolha afetiva. A frase de Guimarães Rosa citada na Introdução do livro destaca esse caráter afetuoso: “Clarice, eu não leio você para a literatura, mas para a vida”.

Como citações de Clarice já existem aos montes nas redes sociais da vida, deixo aqui alguns trechos dos comentadores que destaquei:

“E a melhor literatura é isso: é a fratura, o corte, o impacto dentro da trivialidade da vida. Clarice dedicou sua vida a revelar este espanto. E é este espanto que deixa seus leitores igualmente atordoados” (Affonso Romano de Sant’Anna sobre o conto Amor do livro Laços de Família)

“Nisso ela é mestre: Magnificar coisas que acontecem ao nosso redor. Seus personagens são aqueles que ninguém quer ver. Um bocado de gente comum passando pelo extraordinário cotidiano que se esconde pela rotina e pelo enfado.” (Fernanda Taki sobre o conto A Língua do “P” do livro A via Crucis do Corpo)

“O que escrever diante de um conto em três partes em que o simples ato de matar uma barata na cozinha de casa ganha a dimensão de uma tragédia grega surrealista? Nada. Não há o que acrescentar. Tenho até vergonha de escrever. Qualquer comentário me parece obsoleto. CLARICE ME DEIXA MUDA.” (Fernanda Torres sobre o conto A quinta história do livro A legião estrangeira)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

chhh


imagem Cuba Gallery

"quer vir tomar uma coisa e não conversar sobre nada?

Pedir um chá, que chá demora, ferver a água, depois infundir, depois esfriar, e assim dar tempo, dar bastante tempo de não falarmos nada, de ficarmos num silêncio comprido, sem constrangimento nenhum, sem explicações, sem opiniões, sem histórias longas e cheias de detalhes, sem nada, sem nem uma palavrinha sequer, silêncio enquanto a xícara esfria devagar nas nossas mãos, o tempo da gente acreditar que a vida é simples como a água que ferve e depois esfria.

Amor, água quente e umas folhas. E só."

Carol Nogueira

sábado, 15 de maio de 2010

yael naim: simples, delicada e doce.

far far
ao longe, bem longe, há esta menina
ela está rezando para que algo aconteça com ela
todo dia ela escreve palavras e mais palavras
só pra expressar os pensamentos que ficam flutuando por dentro
...
de tempos em tempos há cores e formas
atordoando os olhos dela, fazendo cócegas nas mãos
eles inventam pra ela uma nova palavra com
céus em óleo e rios de aquarela
respire fundo e mergulhe
há uma bela bagunça por dentro
como pode você ficar do lado de fora?

quarta-feira, 28 de abril de 2010

não siga o coelho



tem dias que a gente é como o coelho da alice
corre aflito e ilogicamente contra o relógio. tenta a agradar a rainha, os pais, os amigos ou quem quer que seja.

deseja aprender de tudo e se enche de trabalho e coisas desimportantes, quando no fim só gostaria de sentar e tomar chá.

terça-feira, 31 de março de 2009

sem meias palavras


na tarde de inverno
sou folha sem vento
arrastada na enxurrada

rumo ao nada que se esconde
no outro lado dos esgotos
que atravessam, silenciosos, as cidades.

fosse em Paris, seria charme.

mas, aqui, às dezoito horas
de um dia chuvoso de agosto
no nordeste brasileiro

sou puro desespero.

(Marcia Maia)