Eu fico
envergonhada com a quantidade de livros que não li. E sempre tem aqueles
momentos que aumentam o constrangimento. Morte é um deles. Sinto-me em dívida,
não sei bem. Quando apareceu a notícia que Gabriel Garcia Marquez perdeu a
memória, fiquei envergonhada. Ele não morreu, mas para um escritor perder a
memória deve ser como morrer.
O primeiro
e único livro dele que tentei ler foi Cem anos de solidão. Larguei na
metade, por justa causa na época. Eu era uma caloura, queria devorar os livros
da faculdade e tantas outras coisas tolas de calouro.
A única
maneira de passar esse constrangimento é lendo. Comecei com Crônica de uma
morte anunciada. É um romance curto e de narração impecável. Só fez meu constrangimento
aumentar. Vou passar para o próximo livro e esperar.
"Estavam a
três noites sem dormir, mas não podiam descansar, porque tão logo começavam a
dormir voltavam a cometer o crime. Já quase velho, tentando explicar-me o seu
estado naquele dia interminável, Pablo Vicário disse-me sem nenhum esforço: “Era
como estar acordado duas vezes.” Essa frase me fez pensar que o mais insuportável
para eles no calabouço deve ter sido a lucidez." (Crônica de uma morte anunciada, 1928)
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