Acontece que às vezes ele chega de um
jeito muito estranho. Dali uma hora ia acontecer o primeiro Café Ferrante.
Imbuída de consumismo e ansiedade saí pra comprar uma blusa em uma loja da
cidade que eu gosto muito. A loja de Dora fica no Rio Vermelho. Lá ela faz
costuras bonitas e seleciona artesanatos de gente criativa e empreendedora como
ela. Empreendedora no sentido da palavra que eu mais gosto. É romantizado. Ando cansada com o discurso da crise
que agora é hora de empreender. Também sigo cansada com o discurso hipster do
sorvete orgânico e do bordado da vó como se fosse à descoberta da roda. A moça
da coxinha e os vendedores de toda sorte empreendem há anos e nunca
reivindicaram para si os louros dos seus feitos.
Mas voltando a Dora, fui lá procurar
uma blusa que vi no instagram. Achei que a blusa ajudaria no encontro próximo.
Um monte de mulher incrível conversando sobre literatura, feminismo e Elena
Ferrante. Mas não encontrei a tal blusa, já estava esgotada há tempos. Aceitei
a perda da blusa e voltei caminhando até o ponto de ônibus, aproveitando o
sábado de sol. O Rio vermelho é um dos bairros mais legais de Salvador. Sábado
pela manhã ele estava vazio. No caminho encontrei um brechó e lá esteve ele, um
vestido perfeito. Ele cabia perfeitamente. Ele era bonito e trouxe aquela
sensação do acaso, do destino, que repito com frequência que não acredito ou
que não existe. Talvez eu esteja exagerando no misticismo. Talvez eu não esteja
percebendo a estrutura capitalista que faz com que a compra de algo traga essa
felicidade instantânea. Mágica. Como se o vestido possuísse uma força por
apenas existir.
Mas naquela manhã, enquanto eu não
estudava para a dissertação e ignorava todos os quilos de textos que preciso
ler até o fim do mestrado, fiquei feliz e leve. Ficar feliz e leve com o ritmo
de estudo que tenho é tão difícil. Um otimismo que não me é muito caro chegou e
aceitei as incertezas por alguns instantes. Foi feliz o nosso encontro e a
minha tarde de conversas, com bolo e café, enquanto aguardamos ansiosas o
próximo livro da Elena Ferrante. Ainda não decidi se o vestido tem
mérito nisso ou não.